A queda dos juros

Nos dois últimos meses, temos visto na imprensa manifestações do ministro Guido Mantega e também da presidente Dilma Rousseff sobre os altos spreads bancários no país.

Logo após vieram as quedas da taxa básica de juros, Selic, e a última foi no dia 16, quando passou de 9,75% para 9%, sendo que a mais baixa praticada foi 8,75%, em 2009.

Tal fato representa uma guinada radical na política econômica brasileira em relação aos juros praticados até aqui, pois, o Brasil foi por muito tempo um dos campeões mundiais em taxas de juros e spreads bancários.

Evidentemente, a crise econômica deflagrada em 2008, no seu início estava mais localizada na Europa e Estados Unidos, mas se alastrou, e a diminuição da atividade econômica já atingiu um dos nossos maiores parceiros comerciais, a China.

Aqui já se sente, em alguns setores, sinais de arrefecimento na dinâmica econômica, o que pode ser um alerta para possível queda na entrada de investimentos estrangeiros; esses fenômenos ocorrem muito rapidamente numa economia globalizada.

A posição do governo está sendo agir preventivamente, isso fica claro, não adianta “fechar a porteira depois que a boiada escapou”. Com isso, tomaram-se medidas para que o país seja mais competitivo no mercado interno e externo, e aumentar seu PIB; ao mesmo tempo serve como profilaxia para afastar o fantasma da inflação.

Ouvi de um diretor de banco há dois dias, a objeção que esse procedimento poderia dificultar a liberação do crédito bancário, uma vez que o incentivo de juros baixos aumentaria a demanda, e consequentemente, a inadimplência poderia crescer ainda mais. Não entendi, fiquei olhando pra ele e por educação não perguntei: o senhor sabe o que são juros? Ou, a prática de seu banco é embutir os riscos da inadimplência – que é parte inerente da função de avaliação do cliente – dentro dos juros?

A primeira consequência positiva da queda dos juros é tornar o rendimento da poupança mais atrativo. Com isso a poupança passaria a levar vantagem sobre grande parte dos fundos de renda fixa.

Outro ponto muito importante e não muito divulgado é que a dívida pública, hoje, está estimada em torno de 1,8 trilhões de reais, e grande parte dessa, mais de um quarto, está atrelada à Selic, portanto, bingo!

Os clientes antigos poderiam ser beneficiados com a queda dos juros, surgindo agora, a chance de renegociarem suas dívidas com seus bancos, que levariam em conta evidentemente, a história de cada devedor.

Os financiamentos da área imobiliária não sentiriam grandes benefícios, unicamente porque nesses casos, apesar da Selic fazer parte da base de cálculo dos juros, a outra parte vem do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) que já possui uma taxa muito baixa, de 3% ao ano.

Portanto, para o não especialista, o que se pode observar até agora, é que a política econômica do ministro Guido Mantega continua em uma direção coerente e atenta às intempéries internacionais, principalmente quando se aproximam do nosso território.

Desculpem-me a franqueza, não obstante a vulnerabilidade e volatilidade, características da macroeconomia, mas em situações como essa parece que os especialistas da área contraem, súbita e epidemicamente, uma laringite aguda, causando-lhes uma afonia para qualquer análise mais aprofundada, compatível com suas qualificações. E tal inflamação só passará quando aparecerem os primeiros resultados, e aí, na convalescência manifestarão a síndrome da Pitonisa do Óbvio.

1 comentário

  1. alfredo platinetty

    (Ao diretor do banco aquele): Além de todos os manjadíssimos e indiscutíveis benefícios da queda de juros, se esta chegar ao balcão do cliente comum, endividado até o pescoço e a um passo da inadimplência, ela provoca também a chamada “Equity” (nada mais que a diferença entre o valor de mercado do bem alienado e o saldo devedor financiado), prática muito comum entre os bancos americanos, na qual se substitue, via refinanciamento, a dívida pesada, de pagamento incerto, por carga mais leve, mais adequada à capacidade de pagamento do tomador.
    Vale também lembrar aqui que, assim como a gravidade com a massa, nada empurra tanto o preço – ou o juro! – pra baixo como a livre e desimpedida concorrência!

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