PEQUENO MANUAL SOBRE ELEIÇÕES

Política a arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados; a aplicação desta ciência aos assuntos internos da nação ou aos assuntos externos. Em 64 a.C., Cícero, notável orador e político romano, embora não pertencente à aristocracia de onde saíam os que iriam dirigir os destinos de Roma, apresentou-se como candidato ao posto de cônsul, o cargo mais importante na cena política de Roma. Seu irmão Quintus Tullius, general e político, produziu um memorando que denominou Pequeno Manual sobre Eleições, com o objetivo de ajudar o candidato na campanha. Os conselhos nele contidos podem surpreender pelo cinismo e pelo pragmatismo, mas mostram que os costumes e as práticas políticas não se modificaram substancialmente desde esses remotos tempos romanos. Segundo Quintus Tullius, são três as coisas que podem garantir votos numa eleição: favores, esperança e relações pessoais. E segue dizendo ao irmão: “Você deve trabalhar para dar esses incentivos às pessoas certas. Com relação àqueles em quem você desperta a esperança , deve fazê-los acreditar que estará sempre ao seu lado para ajudá-los. Em relação aos que já o conhecem, você deve encorajá-los, adaptando a sua mensagem à circunstância de cada um e demonstrando a maior gratidão pelo apoio de seus seguidores. Reconhecer a diferença entre as pessoas úteis e as inúteis em qualquer organização evitará que você invista o seu tempo e recursos em pessoas que serão de pouca ajuda para você. O candidato deve ser um camaleão, adaptando-se a cada indivíduo que ele encontra. Mantenha por perto os seus amigos. E seus inimigos mais perto ainda. Depois de identificar quais os amigos com os quais poderá contar, dê atenção a seus inimigos. Há três tipos de pessoas que poderão opor-se aos seus interesses: aquelas a quem você contrariou, as que não gostam de você e as que são amigas próximas de seus oponentes. Para impressionar os eleitores, dê atenção a cada um deles, sendo pessoal e generoso. Faça promessas de todo o tipo. As pessoas preferem uma mentira de conveniência a uma recusa direta. Prometa qualquer coisa a qualquer um, a menos que uma clara obrigação ética o impeça de fazê-lo. Também não fará mal se você os lembrar de quão desqualificados são seus oponentes, acusando-os de crimes, escândalos sexuais e corrupção em que poderão estar envolvidos. Por outro lado, você não deve fazer promessas específicas, fique em vagas generalidades. O medo funciona melhor do que uma ação judicial. Cícero foi eleito. Assim ainda caminha a política Nacional, mas vai mudar, os ventos são alvissareiros.
* Carlos Henrique Pellegrini é professor universitário e Diretor de Gestão e Sucessão da Maxirecur Consulting, pellegrini@maxirecur.com.br