A natureza está gemendo

Peter Seligman, fundador da ONG Conservação Internacional, esteve recentemente no Brasil para lançar a campanha “A Natureza está falando”. Na verdade, deve ter ouvido os gemidos de um ambiente que continua a ser maltratado. Embora a tendência governamental diante das crises seja a resposta imediata e visível, a partir de grandes obras, não é isso o que cura o ambiente.

Ações emergenciais não sanam a fragilidade hídrica do Brasil. Por isso é que Seligman propõe a tarefa hercúlea de recuperar a produtividade das fontes de abastecimento de água. São Paulo envenenou seus grandes rios e sepultou seus milhares de córregos. Há centenas de veios d‘água, de várias dimensões, sob o asfalto sobre o qual correm os veículos. Uma cidade para carros, não para seres humanos.

A receita é singela. Reflorestamento. Palavra ofensiva para os “desenvolvimentistas”, que só enxergam o agronegócio como inimigo da natureza. É desalentador verificar a devastação de todo o Estado, que substituiu os “sítios”, os pequenos espaços autárquicos, onde as famílias sobreviviam com a produção agrícola e a criação própria, por enormes canaviais.

O “mar verde” seduziu os que acreditaram no etanol. Hoje, parece debilitado esse mercado. Onde se plantou cana só cresce braquiária. Terras abandonadas não são recuperadas e continua-se a devastar mais e mais. A Mata Atlântica praticamente desapareceu. E o Brasil comemora a “redução” do desmatamento…

Povos mais adiantados já acordaram. Em Nova Iorque, decidiu-se investir e proteger as florestas das montanhas Catskills. Foi uma opção muito menos dispendiosa do que implantar usinas de purificação de água. Economizaram bilhões ao priorizar a proteção das fontes. A verdadeira educação ambiental levaria a sério a produção de mudas e o seu plantio para regenerar o deserto.

O trabalho anônimo de alguns heróis ao coletar sementes, ao formar viveiros, ao refazer a mata ciliar. Mas isso é pouco para os interessados em projetos bilionários, que não atingem a raiz do problema – a nossa insensibilidade – e são meros paliativos que não impedirão a humanidade de sofrer, logo mais, muito mais.

JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.