“Na hora matinal em que o mimoso Colibri volatiliza…

eu vejo no quintal as lavadeiras pondo anil, nas camisas de cor primaveril…”

Esse é um trecho de uma antiga música de Adoniran Barbosa, que um saudoso amigo costumava recitar, quando se irritava com situações absurdas, que agrediam a inteligência mediana menosprezando-a ao ponto de chamar a razão de e a evidência de meu Loro!

Lembrei-me disso quando acompanhava o noticiário sobre as gravações telefônicas entre o Senador Demóstenes Torres e o Sr. Carlinhos Cachoeira.

Em matéria da Agência Brasil, assinada por Mariana Jungmann, o PSOL apresentou representação no Conselho de Ética do Senado contra o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), na qual solicita que o conselho abra processo por quebra de decoro parlamentar baseado em denúncias veiculadas na imprensa sobre as relações de Torres com o empresário envolvido na exploração de jogos ilegais, Carlinhos Cachoeira.

Na mesma matéria ainda: “A representação cita as gravações feitas pela Polícia Federal que registram solicitação de dinheiro a Cachoeira, feita por Demóstenes. As gravações também registram informações privilegiadas repassadas por Demóstenes para o empresário, acusado de controlar jogos ilegais em Goiás.

Segundo o presidente do PSOL, deputado Ivan Valente (SP) o partido aguarda mais informações sobre a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que resultou na prisão de Cachoeira, para também pedir investigações sobre outros parlamentares.

Segundo outra matéria do site da Veja, o advogado de Demóstenes diz que as gravações, além de serem as únicas provas que existem, ainda são ilegais porque foram autorizadas por um juiz de primeira instância, e nesse caso deveriam ter sido autorizadas pelo STF, já que o senador goza do foro privilegiado.

Após o procurador-geral da República Roberto Gurgel ter pedido ao STF a abertura de inquérito, o ministro Marco Aurélio explicou a jurisprudência mencionando duas situações diferentes. Primeiro seria a autorização de quebra do sigilo telefônico por um juiz de primeira instância, de uma autoridade que tem foro privilegiado, isso seria ilegal. Outra coisa é a mesma autorização para investigar um cidadão comum e nas gravações se descobrir o envolvimento de uma autoridade parlamentar com o investigado. Isso não é ilegal e foi exatamente o que aconteceu com o senador Demóstenes Torres.

Como disseram vários parlamentares, o Legislativo está desacreditado perante a opinião pública em função de tantos escândalos que vem proporcionando, bem como as justificativas dos julgamentos que têm sido apresentadas, ou seja, pelo exemplo da mais alta Casa das Leis, fazer da pizzificação um valor cultural na deseducação de nosso povo.

O problema está no coeficiente de elasticidade dos padrões éticos na política! Acho que na físico-química não se conhece algum material com elasticidade maior.

Mas isso não é uma prerrogativa só nossa, Bill Clinton, ex-presidente norte-americano, hoje cultuado em seu país, e profere palestras milionárias pelo mundo, conseguiu provar que sexo é somente a relação perfuro repetitiva e oscilante entre o pênis e a vagina. Sexo oral, manual e sodomia não é sexo! Mas até hoje o mundo está querendo saber o que é. Talvez um dia o coeficiente de elasticidade moral venha comprovar cientificamente sua hipótese e esclarecer definitivamente essa torturante dúvida mundial.

Como disse o professor David S. Landes da Universidade de Harvard: Deve-se pressupor sempre que as regras foram feitas para serem transgredidas.

Talvez o querido Adoniran, com sua maneira simples e brejeira, já tenha explicado isso há muito tempo em seus versos, como os declamava meu saudoso amigo.