Mudar de conversa

Há chavões que habitam todas as conversas. Houve um tempo em que se falava “a nível de”. Também já se abusou do “colocar” em vez de expor. Em recente reunião de Congregação, houve troca de olhares quando a mestra contratada pela instituição iniciou sua fala com o denunciador “Vou estar falando para vocês…”.

O gerundismo do telemarketing, de tanto combate, parece ter caído de moda. Assim como o “tipo”, que aparece na fala paupérrima de quem não tem vocabulário. E que eu sempre interrompo, para dizer: “Em ciência jurídica, tipo é um verbete utilizado para enunciar a ação ilícita. O tipo do furto é subtrair coisa alheia móvel”. Pois uma dessas expressões surradas é a “mudança de paradigma”.

Surgiu com a obra de Thomas Kuhn, físico que há 50 anos lançou “A Estrutura das Revoluções Científicas”, pela editora da Universidade de Chicago. Foram apenas 172 páginas, mas influenciaram o mundo. O raciocínio é relativamente simples. O desenvolvimento científico ocorre em 3 fases. A primeira é a “ciência normal”. A comunidade pesquisadora compartilha a matriz disciplinar e procura solucionar os enigmas gerados por anomalias entre o que o paradigma prevê e o que a experiência revela.

Em períodos mais longos, as anomalias não resolvidas se acumulam e o paradigma é questionado. É a fase em que surge “uma proliferação de articulações convincentes, a disposição de tentar qualquer coisa, a expressão de descontentamento explícito, o recurso à filosofia e ao debate, de preferência aos fundamentos”.

A crise é resolvida por uma mudança revolucionária de visão do mundo, na qual o paradigma original é substituído por um novo. É a tal “mudança de paradigma”, que se tornou clichê e panaceia. Serve para tudo. Em outras palavras, nada mais do que a tese, antítese e síntese, esta a representar nova tese para o reinício do ciclo.

Espertos, marqueteiros e profissionais da reengenharia motivacional, servem-se da mudança de paradigma para impor seus projetos às empresas que os contratam. Nem por isso a obra de Thomas Kuhn deixa de instigar e de provocar a reflexão dos homens da ciência. É isso. Não está na hora de mudar de assunto, ou de paradigma, se preferirem?