O guardião da Serra

Meu amigo e confrade Benedito Lima de Toledo afirmou, ao tomar conhecimento da morte de Aziz Ab´Saber: “Ele tinha saber até no nome!”. E é verdade. O sábio Ab´Saber foi o maior geógrafo brasileiro. Há mais de 60 anos estuda os biomas do País e se tornou um dos mais importantes estudiosos da geomorfologia. Foi ele quem alertou o Brasil de que a Serra do Japi, nosso patrimônio maior, é um sistema frágil. Se derrubada a mata, o solo árido de calcário fará surgir um deserto.

E é isso que parecem preferir os que “vendem” a Serra em seus anúncios, mas não hesitam na insânia de acabar com ela. O mínimo que se pode fazer para reverenciar a memória de Ab´Saber é preservar a Serra que ele ajudou a conhecer e se responsabilizou pelo tombamento. Situação legal que a cupidez quer alterar para atender aos imediatismos da vontade de lucro certo. Uma das últimas batalhas travadas por Aziz foi em relação ao crime que se perpetra hoje no Brasil, com a revogação do Código Florestal. Num artigo publicado em novembro último, na “Biota Neotrópica”, ele afirmava: “Em face do gigantismo do território e da situação real em que se encontram os seus macrobiomas, qualquer tentativa de mudança no Código Florestal tem de ser conduzida por pessoas competentes e bioeticamente sensíveis.

Por muitas razões, se houvesse um movimento para aprimorar o atual Código Florestal, teria de envolver o sentido mais amplo de um Código de Biodiversidade, levando em conta o complexo mosaico vegetacional de nosso território. Enquanto o mundo inteiro trabalha para a diminuição radical de emissão de CO2, o projeto de reforma proposto na Câmara Federal de revisão do Código Florestal defende um processo que significará uma onda de desmatamento e emissões incontroláveis de gás carbônico”.

À tristeza pela morte física de Aziz Ab´Saber, acrescenta-se a melancólica situação da legislação ambiental, em acelerado retrocesso e a resistência à preservação do último fragmento de Mata Atlântica a separar a cinzenta mediocridade da conurbação paulistana desta ainda habitável região de Jundiaí. Ajude-nos do além, Ab´Saber, a recobrar a sensatez!