Flertando com o Nazismo

No último domingo, 8 de abril, o jornal O Estado de São Paulo publicou uma matéria com o título: “Sede de antiga colônia nazista será demolida”.

O artigo discorre sobre vários dados históricos a respeito da Fazenda Cruzeiro do Sul, em Paranapanema, a 260 km de São Paulo, e faz referência à tese universitária de Aguilar Filho, sobre os aspectos da educação brasileira, e o apelo pela preservação de um monumento que testemunha uma das fases marcantes de nossa história política.

Porém, o que mais me chamou a atenção nessa matéria, muito bem escrita, foram exatamente os detalhes históricos. Essa fazenda foi adquirida no início do século passado por Luis Rocha de Miranda, entusiasta da Ação Integralista Brasileira (AIB). A propriedade tinha geradores de energia elétrica, pista de pouso cimentada e uma estação de trens particular.

O ponto principal do passado histórico dessa fazenda é o fato de que os irmãos Rocha Miranda trouxeram 50 meninos do orfanato Romão de Mattos Duarte, do Rio de Janeiro, meses após Hitler ter tomado o poder na Alemanha, em 1933. As crianças tiveram seus nomes trocados por números e obrigados a uma educação e ritos nazistas e por uma década foram submetidos a trabalhos forçados, cárcere privado e castigos físicos.

A Ação Integralista Brasileira (AIB) foi fundada em 7 de outubro de 1932 por Plínio Salgado, escritor, jornalista e político da época, com uma forte influência do fascismo italiano de Benito Mussolini, tanto na ideologia, como na indumentária e simbologia.

Os principais militantes que deram início ao movimento, além de Plínio Salgado, foram Gustavo Barroso e Miguel Reale.

No início, o presidente Getúlio Vargas deu apoio ao movimento, e a cúpula da AIB tinha conhecimento dos planos de Vargas para dar um golpe de estado, e os integralistas negociavam para se manterem no poder, inclusive Plínio Salgado almejava o Ministério da Educação.

Porém, após a instalação do Estado Novo, Getúlio puxou o tapete dos integralistas, e proibiu qualquer associação política a partir de 1937.

A AIB defendia a doutrina do integralismo, defendendo um Estado forte e centralizado, nacionalismo extremo, xenofobia, hostilizando negros e judeus (uol.com.br).

Usavam camisas e capacetes verdes e calças pretas ou brancas. A saudação “anauê” que na língua indígena Tupi significa “eis-me aqui” era feita com o braço direito esticado e mão espalmada, ao estilo da famosa saudação nazista.

Após a dissolução da AIB, ainda um grupo tentou dar um contragolpe à ditadura de Vargas, mas foi dispersado e Plínio Salgado exilado em Portugal.

Após a queda do Estado Novo em 1945, os integralistas se uniram novamente no Partido de Representação Popular (PRP) sob a liderança de Plínio Salgado. Com o golpe militar de 1964, grande parte de seus membros entraram na ARENA (Aliança de Renovação Nacional), partido de apoio ao regime militar.

Esses fatos demonstram a influência das tendências fascistas e nazistas, que perduraram em vários países da América Latina, herança sobre a qual nasceu e cresceu a nossa Ditadura Militar, que por 20 anos obscureceu a democracia nesse país.

Os tempos mudaram, após o final da Guerra Fria e o desmoronamento do Bloco Comunista liderado pela antiga União Soviética, os totalitarismos, tanto de direita como de esquerda tomaram uma vestimenta high-tech, muito mais inteligente e politicamente correta: o “democratismo”, que se caracteriza pela exaltação dos valores democráticos de forma demagógica para o povo, usando de toda tecnologia do marketing político, para dissimular o mesmo mal de outrora: a corrupção.

 

Referência: A ASCENSÃO DA AÇÃO INTEGRALISTA BRASILEIRA (1932-1937) – Jefferson Rodrigues Barbosa