Eu, comedor voraz, me confesso (Final)

Comemos como mandruvás famintos, mas nem por isso viramos borboletas!

Depois de todo o esforço do ecossistema pra nos ajudar a produzir comida, não sabemos muito bem como aproveitá-la.

Se não, veja-se o dano causado pelo que vai pelo ralo do desperdício insensato, por força e obra da humanidade:

Pra mencionar só um nobre representante da imensa flora comestível, a cenoura, estima-se que apenas 30% da Daucus carota plantada consegue chegar ao mercado in natura; o restante é muito feio pra ser gostoso.

(Tecnologia recente tem conseguido devolver às bancas uma boa parte das feias, na forma de “baby carrots”, e nós pagamos o triplo pela operação plástica…)

A comida não comida que apodrece despeja na atmosfera 3, 6 bilhões de toneladas de gases (CO2 e metano) na estufa terrestre – a cada ano! – dissipando na fumaça verdejantes 700 bilhões de dólares.

Apenas 1/3 dos agricultores que têm eventuais excedentes de safra consegue vender suas sobras àqueles que têm dinheiro para comprá-las.

Nos Estados Unidos, a metade do que o mar produz e a metade das frutas e vegetais que a terra dá, nem chegam a ser comidas, cedidas às pragas e às doenças.

Em geral, desperdiçamos pelo menos 1/4 do que gastamos em alimentos, ou seja, só conseguimos comer – antes que apodreça – 75% de tudo que compramos.

Entupimos a despensa, e as sobras do que cozinhamos em demasia congestionam também a geladeira, impedindo a noção do estoque entre os comprados e os cozidos e dissimulando o remorso pelo pecado de jogar fora – afinal, estava estragado mesmo!

Prazo de validade – quando o há – é, muitas vezes, tão difícil de achar quanto a composição de ingredientes contidos em determinado produto, o que estimula o nosso descaso quanto à frescura no momento da compra.

O desperdício de comida – ainda que esqueçamos os que passam fome – é especialmente danoso ao ecossistema porque todo o gasto pra produzi-la já está feito e o solo já se exauriu contribuindo.

E agora o produto é descartado para deteriorar rápida e anaerobicamente em aterros sanitários, onde são geradas enormes quantidades de metano, gás este 25 vezes mais nocivo ao chamado efeito-estufa do que o dióxido de carbono…

Todos sabemos que a superfície em que vivemos no nosso planeta é apenas a crosta esfriada de um enorme guisado em constante efervescência, com o timer – inexorável! – ligado pra passar do ponto e se queimar.

Não precisamos apressar o processo, sob pena de a vida humana se encurtar ainda mais…

Assim, eu, comedor confesso, sugiro que, mais conscientes, participemos de tal processo jogando nada fora, somente água na sua fervura!

Pra começar, eu me comprometo a brigar menos pela competição inócua do consumo e muito mais pela compostagem do meu lixo – por menos gases no céu poluído e mais matéria orgânica devolvida na terra extenuada…

Empenhar-me-ei pra compatibilizar minhas compras com minha capacidade de comê-las…

Com a ajuda de algum app pra celular, juro planejar melhor as refeições, de forma que, à mesa, tenha mais excesso de agradecimento do que de pratos “man versus food”…

Aprenderei, de uma vez por todas, que comida requentada ainda é muito mais barata, nutritiva e gostosa do que aquela que deixei estragar…

Tenho certeza de que a nossa Terra, um pouco mais longeva, agradecerá!