O ESPÍRITO BRASILEIRO

A maioria dos brasileiros são mais artistas que sábios mais festivos que
trabalhadores. Este tem sido um verniz cultural identificado por estudiosos
da alma brasileira. Entre as razões que explicam o fenômeno, aponta-se o feixe que anima o espírito brasileiro; improvisação, cordialidade, jeitinho,
transgressão às leis. Costuma-se dizer que levamos a sério coisas com que
nos divertimos, e o carnaval é o melhor exemplo disso, haja vista a
competitividade pela disputa do título de maior escola de samba. Como já
poetou Carlos Drummond de Andrade para interpretar o brasileiro, “brincar é
seu destino, ainda quando há desrazões de ser feliz”. O Brasil tem cara de
quem está sempre fazendo cirurgia plástica. Aliás, o conceito de
“provisório” é tão brasileiro que se confunde com o antônimo “permanente”.
Veja-se a velha Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira
(CPMF). Tornou-se permanente por muito tempo. Seguindo a linha das coisas
provisórias, contabilizamos, em 18 anos, 17 planos econômicos. Isso decorre
da frágil institucionalização política, temos de admitir que os nossos
homens públicos, ao não primarem pela ética da continuidade, também têm
culpa no cartório. Cada um puxa a brasa para sua sardinha e, ao final, sobra
mais brasileiro que peixe. O governo Sarney foi extremamente
experimentalista. Decretou moratória, fez intervenção na economia, congelou
preços e salários, mudou a moeda cinco vezes. O governo Collor experimentou
o pacote desastroso do confisco da poupança. Ao longo de 1994 o País
abandonaria os ciclos das experiências “milagrosas” com o Plano Real. O
governo de Fernando Henrique fincou as bases da estabilidade, a inflação foi
controlada e a economia se abriu. Em oito anos de governo, Lula, adotando as
diretrizes econômicas do antecessor, consolida a estabilidade econômica com
significantes avanços na distribuição de renda às classes mais pobres. De
tudo que dizem de Lula, falta acrescentar uma qualidade; é um brincalhão. A
capacidade de exibir um Brasil – Maravilha no meio de tanta tormenta e de
dizer que nosso País tornou-se a oitava maravilha do mundo, só pode advir
mesmo de um espírito folgazão. Julgo Lula e os seus artistas.