De bispo a general

À medida que mais anos velhos vão se acomodando como podem no arquivo das lembranças e menos novos virão, desencorajados pela bola de cristal, este ano que se vai me recorda aquele grupo do meu tempo de “Instituto de Educação Experimental de Jundiaí”, em plena década de 60 do século passado…

Num tempo em que se queria fazer tudo, menos “fazer feio”, aqueles amigos valorosos de escola formaram a minha escala de valores.

Havia o Marião – o que acumulou estrelas e me deixou cicatrizes – aquele menino de voz grave e sotaque carioca que chamava a atenção da molecada provinciana da então pacata Jundiahy, sotaque este ainda mais destacado nas brincadeiras durante o dever-de-casa em sua residéncia na vila militar…

Havia o Joaquim – o que optou pela santidade, enquanto a gente pecava – garoto tímido que atraía pelo seu português “esquisito”, especialmente quando se soltava, espontâneo, nos dias em que estudávamos juntos na “Chácara das Carpas”, na Colônia…

Dentre os grandes Chicos que lá havia, sobressai na saudade o Biancardi e as composições ensaiadas juntos, em sua casa na Paula Penteado, para os festivais de música na própria escola e depois no Clube Jundiaiense…

Ficou em mim a paixão pela música. Ele não pôde ficar, eis que foi chamado de volta à eternidade quando ainda adolescia, me deixando parado no tempo chupando drops de hortelã,como dizia em uma de suas músicas.

Que pena! Certamente teria envelhecido melhor que o Buarque!

Havia o Nardinho, o Tião, o Nei e o Claudinei, os Jorges e os Nelsons – de Fujita e de Oliveira, que incluía o caçula Gersão – o Tonhão e o Baruk, os Joões, os Zés Roberto e Eduardo, os Armandinhos e Armandões, os Fernandos e os Gilbertos, os Wilsons e os Luízes, o Estacião… o Atilião… e muitos mais que a congestionada memória não consegue tirar do coração e trazer ao texto!

Havia também a Ângela, a Helô e a Benê, as Marias, as Luízas e a Vera, a Suzana e as Reginas, entre muitas outras meninas especiais na nossa classe, mas pertenciam todas ao assustador clube da luluzinha e, naquele tempo, moleque não tinha carteirinha – e muito menos acesso!

Reféns da vida, a maior parte deles se dispersou seguindo seu próprio rumo – para alguns, interrompido precocemente.

Muitos entraram nas melhores universidades e se formaram doutores nas mais diversas áreas, mas, pra mim, a sua maior proeza foi a contribuição – a intencional e a  involuntária – que deram à minha formação.

Naqueles dias em que a vida nos oferecia tanto, em tempo e sonhos, e bem menos, de ambos, nos daria, aqueles meninos e meninas – coautores de mim – foram o meu Photoshop.

 

Deram-me a sua amizade, trouxeram-me novos amigos – que estão entre os maiores que tenho – e estabeleceram as fundações definitivas da obra que hoje sou.

 

Por tudo isso, quero aqui prestar tributo aos apressados que não conseguiram esperar pra conhecer o céu!

 

Quero também desejar um feliz Ano Novo àquelas meninas e meninos sexagenários remanescentes daquela saudosa turma do Instituto que ainda estão comigo neste mundo!

 

E agradecer àqueles daquela minha turma de outrora que ainda me concedem o enorme privilégio de poder andar e rir juntos nesta nossa caminhada tão fugaz…

 

– “Saúde”, meus amigos!

 

 

 

 

6 comentários

  1. francisco carbonari

    Platão, prazer encontrá-lo em Jundiaí e prazer maior em ler o seu texto. Ele reflete muito bem o que significou aquele tempo para nós. Esse passado que hoje romanticamente recordamos tem muita responsabilidade no que somos. Para o bem e para o mal. Felizmente mais para o bem. Recententemente postei no facebook uma foto de 1967 dos times de futebol do cientifico técnico e biológico. Voce está lá. Se tiver tempo confira. Um grande ano para voce.

    Chico Carbonari

    • alfredo platinetty

      É isso aí, professor! Você estava lá, está no texto e estará sempre no meu coração…

      Um grande abraço do Platão!

    • alfredo platinetty

      Obrigado, Edu! Comentário breve e denso, muito denso…

      Um abração!

  2. Jose Bertagni Neto

    Querido Alfredo Platinetty.
    Que gostoso ler o seu texto, que emoção me causou, senti o cheiro da sala de aula,vi de novo o cacho de bananas apodrecido no carro do Volponi, ouvi o som do piston tocado pelo Celso de Oliveira na fanfarra, tudo voltou!!!!!.
    Para ajudar vc se recordar de mim sou um dos Ja-k-res(eramos do Jacare em Cabreuva,eramos gemeos eu e o Domingos.
    So posso desejar-lhe muita saúde tambeme se quiser manter contato comigo, meu e-mail esta acima.
    SEJA FELIZ MEU AMIGO!!!!!!

    • alfredo platinetty

      Pois é, Zé. Turma boa, hein?
      E o ‘pequeno’ Jacaré – que eu achava que pertencia a Itupeva, desculpe – sempre deu enormes contribuições à ‘grande’ Jundiahy…
      Um abraço grande, meu amigo!

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