AUSÊNCIA GERAL DE ESTADISTAS

O Procurador Geral da República (PGR) Rodrigo Janot despediu-se de
suas atividades na semana passada. Partidário, parcial, hesitante, marcou
seus quatro anos com polêmicas como as recentes, envolvendo o Ex-Presidente
em exercício Michel Temer e a delação premiada dos irmãos Batistas da JBS.
Palavras ásperas, modos grosseiros, agressividade verbal e destempero não
são atitudes estranhas ao universo da vida pública, mas não foi o caso de
Rodrigo Janot. Disputas de espaço palmo a palmo com sarcasmo, ironia,
dissimulação, coação, chantagem e força, essas sim. O confronto revelou uma
face triste da política, a falta de substância e da teatralização gratuita.
Acostumamos com a parcialidade vermelha de Janot, característica que
praticamente organiza o seu self técnico político. Já Michel Temer gosta de
protagonizar a cena; espetacular, redundante, hiperbólico, como se a vitória
política dependesse não do teor da argumentação ou da mensagem, mas da
aparência. Temer não engana mais ninguém, se não é o chefe do Quadrilhão do
PMDB, faz parte da cúpula. Estadistas não são governantes que contam com
apoio popular, discursam com paixão e se esmeram na defesa intransigente de
seus países. Devem fazer isso também, mas se espera que façam mais. Não são
necessariamente pessoas cultas, educadas e corteses, ainda que se espere que
comportem de acordo com certos parâmetros de respeito e civismo e ajam
prioritariamente segundo regras institucionais e procedimentos diplomáticos.
Estadistas são acima de tudo governantes que se destacam por possuir e
encarar um projeto coletivo, quer dizer, um projeto de sociedade ou de
unidade nacional, que inclua mais que exclua e anuncie com clareza um futuro
plausível e “desejável”, uma vida digna para todos, não somente para os que
estão do seu lado ou pensam como ele. Sua diferença específica repousa na
capacidade de agregar diferenças, unificá-las e organizá-las num Estado,
numa comunidade política. Nosso momento requer rápida adaptação do modus
operandis, alinhar-se com a revolução das redes sociais, da conectividade e
da interatividade. A sociedade está evoluindo em velocidade estratosférica,
já a política, a burocracia e a economia não acompanham. A atual vida
pública requer velocidade nas respostas e lealdade. A vida privada tornou-se
pública e o bem público nunca mais será privado.