Aos sessenta, setenta…

Aos sessenta, setenta…

Os babyboomers estão ultrapassados – o bebê ficou velho.

Chegaram àquela idade que, muito longe de ser a melhor, aumenta a cada dia de tamanho e de glórias que só a si dizem respeito…

Sócios-fundadores remidos deste estranho mundo novo, mal vivem de lampejos!

E veem sua criatura se afastar, autônoma e virtual – esnobando o cordão umbilical e até mesmo o cabo ótico – e se voltar, irreconhecível, mal-agradecida e sem fio, contra os seus próprios criadores.

Em transformações mais rápidas do que a comunicação entre neurônios cansados, eis o que estes novos tempos acabarão perdendo e quem viver não verá:

–      Os Correios

Da antiga missão de fornecer soluções acessíveis e confiáveis para conectar pessoas, instituições e negócios, só restará a saudade do cachorro e a lembrança  do romântico correio elegante.

O e-mail e a concorrência privada têm dado impiedosos golpes aos honoráveis carteiros, que sobrevivem do lixo postal e das contas que nos entregam.

–      O cheque

O processamento de cheques custa bilhões de dólares ao sistema financeiro.

Cartões de plástico e transações on-line vão levar à eventual extinção do cheque, colocando ainda mais chagas no lazarento correio.

–      O jornal

A geração mais jovem simplesmente não lê jornal impresso. E muito menos paga pela assinatura, apesar do baixíssimo preço oferecido.

Para checar as notícias, recorre-se ao Tipnews ou outros sites menores na Internet.

Assim, o jornal fica restrito aos gatos pingados do papier mâchér, muito poucos pra cobrir os custos de operação.

–      O livro

Apesar da resistência teimosa daqueles que ainda não dispensam o livro físico e suas páginas viradas com o dedo, o final da história contada em livros é o seu próprio desaparecimento.

Pode-se navegar numa livraria virtual e até mesmo ler um capítulo pré-visualizado antes de comprar.

O preço é menos da metade do que custa o livro na prateleira, e o conteúdo – quando bom – elimina a percepção de que se folheia o Kindle Fire HD de 16 gigas.

–      A música

A indústria da música vive o seu fundo musical – e não apenas devido aos downloads ilegais.

O interesse comercial tem levado as gravadoras tradicionais e o rádio à autodestruição.

Uma grande parte das músicas vendidas nas lojas são os chamados “Itens de Catálogo”, nada mais que mais do mesmo, envolvendo sempre os mesmos artistas e seus trabalhos mais consagrados em termos de faturamento.

Isto também se aplica aos shows ao vivo, cada vez mais em flash-back envolvendo plateias leigas e dançantes.

A propósito, para mais detalhes sobre este tema, recomendo o livro de Steve Knopper: “Appetite for Self-Destruction: The Spectacular Crash of the Record Industry in the Digital Age”.

–      O telefone fixo

Esse já vai tarde, porque ninguém precisa mais do telefone fixo, o invasor de lares.

A maioria das pessoas o mantém porque sempre o teve, pagando sem usufruto.

Hoje todas as empresas de telefonia celular permitem chamadas entre usuários do mesmo provedor sem nenhum custo adicional.

–      A televisão

O faturamento das redes de televisão tem caído na razão direta do nível dos seus programas.

A grande causa é que cada vez mais tele-espectadores assistem TV e filmes transmitidos via computador, em cuja telinha também jogam e gastam o tempo que dedicavam à televisão no sofá da sala ou na cama em seus quartos.

Mesmo as TVs a cabo, monopolistas, têm abusado na cobrança e nos comerciais.

Está na hora de poder escolher o que se quer ver on-line ou pela Netflix.

–      O sentido de posse

Viver nas nuvens – quem diria? – se generalizou e virou estilo de vida!

Muitos dos bens que possuímos e usamos não mais teremos no futuro, porque estarão na “nuvem”.

Os computadores têm um disco rígido onde armazenam fotos, músicas, filmes e documentos. O software se encontra num CD ou DVD pronto pra ser reinstalado.

Contudo, a Microsoft, a Apple e o Google estão se mudando para as nuvens, o que significa que a Internet será incorporada ao sistema operacional assim que se ligue o equipamento.

Ao clicar, abre-se o objeto na nuvem Internet. Salvar alguma coisa representa deixá-la armazenada na tal nuvem.

Neste crescente mundo virtual, pode-se acessar livro, música, filme ou qualquer outro arquivo a partir de um simples dispositivo portátil, como o onipresente telefone celular.

E se “der um tilt”, como se dizia no tempo das máquinas de videogame e do pebolim?

Perde-se o álbum de fotos, o livro da estante, o disco de vinil ou a caixa de CDs e a graça?

–      O sentido de privacidade

Apesar do esperneio generalizado, a privacidade – como poucos privilegiados a conheciam – acabou.

Há câmaras nas ruas, nas casas, nos condomínios, no computador e no celular – e também via satélite – com vantagens inegáveis.

O lado ruim é que “sabem” de quem se trata e de sua posição 24 horas por dia, graças ao GPS e ao Google Street View.

Se compro algo, tal gesto informa muito mais do que somente o número do meu cartão de crédito. Revela também o meu perfil – o meu gosto e as minhas neuras. E o assédio continua…

Como profetizou Louis Armstrong em seu mundo maravilhoso, os novos bebês aprenderam muito mais do que jamais saberíamos!

Só restou a saudosa memória – pelo menos até que o Alzheimer a carregue…